domingo, 21 de novembro de 2010

CRÔNICA DO VERBO ENLATADO 8

O SOL QUE NOS ESCONDE

Como se vive atrás da luz não acreditar que a solidão é a verdadeira desculpa para quem tem medo.
Quantas palavras devemos transformar em orações, para nossos sonhos não nos transportar para idílicos momentos.
Quando a luz fortalece a pele e andamos sob o nosso próprio céu, versa a prosa que muitas vezes podemos mas não devemos infelizmente continuamos.
Se a prática do ego nos torna agentes emocionais de uma busca incessante de luz na sombra. Que força e fraqueza desperta o corpo, o olhar seco e frágil pela desolação. são muitos encontros que desprezamos mas nos alimentamos, e o tempo, Sr. Tempo  vive nos alertando lembrando de forma cruel que somos um resultado, que ele anda para frente e nós não temos a capacidade de retroceder o relógio.
Pontes neurológicas de vida mágica, são refeita para sustentarmos e suportarmos tantos afazeres e controvérsias que compelimos a nos entupir para esperançosamente competir.
Somos quem somos, somos máscaras, caídas, recuperadas, renovadas, loucas e mágicas. Mas o Sr. Tempo vê e nos delega uma remoção que nos obriga a sermos o que somos.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

LABIRINTO

Antigamente a gente acreditava que poderia mudar o mundo.
Hoje a gente sofre a rebeldia sem causa.
Isso me lembra a história de dois reis muito poderosos e de duas guerras.
Na primeira guerra, o Rei das Montanhas derrotou o Rei da Planície, matou seus soldados e prendeu-o dentro de um labirinto.
O Rei das Planícies passou anos pelejando para sair.
Conseguiu.  E jurou que se vingaria.
Anos depois, o Rei da Planície derrotou o exército do Rei das Montanhas e vendou os olhos do Rei da Montanha, levando-o para o meio do deserto.
Lá tirou-lhe a venda e lhe disse:
-                     Este é o teu labirinto. Não há encruzilhadas para decidir, nem muros para pular, nem janelas para quebrar,  nem rios para atravessar.
-                     É aqui onde eu te deixo. No pior dos labirintos. O labirinto vazio.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A BOFETADA

Virou-se para as coleguinhas:
Como meu namorado, eu confesso francamente: eu nunca vi! Tem um gênio! Que gênio! Se é feroz? Puxa! Precisa uns dez para segurar! Vocês sabem o que ele fez comigo? Não sabem? Foi o seguinte: ele cismou que eu tinha dado pelota para o Nemésio. E não conversou : me sentou a mão, direitinho! Eu gosto de homem, homem. Escreveu, não leu, o pau comeu. Senão, não tem graça. Sou assim.
Acontece que entre as colegas presentes estava Silene, amiga e confidente de Ismênia. E Silene foi justamente a que se impressionou mais com o episódio. Não resiste. Apanha o telefone e liga para o emprego do Sinval. Queria apenas passar um trote, e nada mais. Do outro lado da linha, porém, Sinval, caricioso, mas irredutível, exigia:
-          Se não disse o nome, eu desligo.
Ia recuar. Mas deu nela uma coragem súbita. Identificou-se: “Sou eu Silene”. Arrependeu-se imediatamente depois de ter dito.  Tarde, porém. E já Sinval, transfigurado, exclamava:
Silene? Não é possível, não pode ser!  No telefone, aceitara o convite de Sinval para um encontro no dia seguinte.  Apaixonara-se, de uma dessas paixões definitivas; reais e mortais. Continuou a encontrar-se com o ser amado, às escondidas. Só não era mais feliz porque pensava na outra. “No dia em que Ismênia souber...”. Chegou esse dia. E foi, entre as duas, uma cena desagradabilíssima.
-          Excluída Ismênia, oficializou-se o romance. Os dois puderam exibir, ostentar, em toda a parte, o imenso carinho em que se consumiam. Começaram a freqüentar festas. E, então, surpresa. Silene descobriu o seguinte: Sinval não se incomodava que ela dançasse com todo mundo. Você não tem ciúmes de mim? Não.
Até que certa vez, a garota resolve ir mais longe. Pergunta ousadamente:
-          E se eu te traísse? Tu farias o quê?
-          Te perdoaria.
-          E se eu voltasse a te trair?
-          Se continuasses traindo, eu continuaria perdoando.
A partir de então, foi outra alma, outra mulher, com atitudes desagradáveis, de escândalo. Nas festas, dançava com o rosto colado. Uma noite, vão a uma outra festa. Quase à meia-noite, de braço com um cara, vai para o jardim.  Sinval espera vinte minutos, meia hora, uma hora.  E não se contém mais: vai procurá-la.  O cara, assim que o viu, pigarreou, levantou-se e desapareceu. Silene ergueu-se também.  Com um meio sorriso maligno, anuncia: “Ele me beijou.”
Sinval não disse uma palavra: derruba a noiva com uma tremenda bofetada. Ela cai longe, com os lábios sangrando.  Enquanto ele a contempla e espera, a pequena, de rastros, com a boca torcida, aproxima-se. Está a seus pés. Abraça-se às suas pernas, soluçando:
Esperei tanto por essa bofetada! 

O FILHO E A INTERNET

Uns dizem que hoje em dia a Internet, em vez de aproximar, afasta as pessoas, que ficam em casa sozinhas, no chat.
Olha só o que aconteceu: O irmão da Márcia morreu de acidente de moto, era o filho mais velho de quatro que Dona Maria e Seu Antônio tinham. O único homem. Quando a família foi desocupar o apartamento do Joel, que tinha morrido, encontrou uma carta dizendo que “você não quer conhecer seu filho...” A carta era de mil novecentos e oitenta.
A família começou a procurar o tal do filho que Joel teria. Seria uma maneira de ter um pouco do Joel de volta. Apareceu um rapazinho, no Sul. Os amigos do Joel diziam que havia esta dúvida. Mandaram vir, encheram o garoto de presentes, filmaram a chegada do menino, paparicaram ele, uma festa.
Mas o DNA disse que não era filho de Joel. Um mico, se não fosse uma tristeza. Os pais do rapaz morto, do Joel, começaram a percorrer as ruas de Niterói em busca das pistas do possível neto. Mas estavam velhos demais e a coisa foi ficando angustiante. Os outros filhos convenceram os pais a desistir.
Bem... quase dez anos depois a Dona Maria liga pra filha mais nova e pede pra ela procurar na Internet. Bem. Em quinze minutos a caçula estava no telefone com o rapaz que no site “pessoas desaparecidas” procurava o pai. O rapaz ouviu que seu pai (que ele dera nome completo no site) tinha falecido, mas que havia uma família inteira procurando por ele. Foi uma festa.
No dia de aniversário do Seu José, quando ele fazia noventa anos, saiu o resultado do exame de DNA. O cara era realmente filho do Joel.
Seu José e Dona Maria, que tinham perdido um filho, ganharam um neto e três bisnetos que não saem da casa deles, foi uma alegria.
E graças à Internet...

A MÃE DE FREUD

Quatro mães judias se encontram no céu. Como não podia deixar de ser, a conversa toda é sobre os filhos.
-Não posso me queixar – diz a primeira - - Meu filho, até hoje, só me deu felicidade. Um santo. E na Terra, por causa dele, todo mundo só fala em caridade, em virtude, em bons sentimentos..
-          Seu filho é...? – pergunta à segunda.
-          Jesus Cristo! – diz a primeira.
-          Já o meu – dia a segunda orgulhosa - por causa dele só se fala em justiça, em mudanças sociais, em solidariedade humana.
-          Como é o nome dele?
-          Karl. Karl Marx.
-          Mmmmmmmm – fazem as outras, apertando a boca.
-          Ah – diz a terceira – como o meu não há.
-          Quem é ele?
-          O Beto.
-          Beto?
-          Einstein.
-          Ah.
-          Eu nem quero falar porque vocês vão ficar com inveja de mim, diz finalmente a quarta mãe, que estivera em silêncio. Que filho!
-          Quem é? – todas perguntaram.
-          Um doutor.
-          E o que é que ele fez?
-          Depois dele, na Terra, todo mundo só fala na mãe.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

ALÍVIO

Um homem sente que acordou, mas não consegue abrir os olhos. Tenta se mexer, mas descobre que está paralisado. Começa a ouvir vozes.;
-          Coitado...
-           Parece que está dormindo...
-           Descansou...
-           Ninguém podia esperar.
-          Coitado.
As vozes parecem conhecidas. Ele começa a entrar em pânico. Concentra toda sua força em abrir os olhos. Não consegue. Tenta mexer as mãos, um dedo. Nada. Será que houve um engano? Vai ser enterrado vivo? Isto é...
-          Um homem tão bom...
-          Grande marido!
-          Que caráter!
-          Que vida exemplar!
-          O homem fica aliviado. Pode estar num velório, mas definitivamente não é o seu!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

CRÔNICAS DO VERBO ENLATADO 7


RETO POR CAMINHOS TORTOS

No espelho os cabelos grisalhos não mentem os minutos já são tão importantes quanto os dias, e a valorização de cada dia vivido é uma vitória da adaptação da inteligência pelas ilusões mortas.
Não significa uma simples troca o plúmbeo céu de qualquer estação pelo antigo e dominante azul, é plural o novo encontro de necessidades e ações que revelam um novo renascimento.
Existem muitos aromas que revelam predicados diferentes, entre doces venenos e amargos obsessivos, tornando a brisa em vento forte em controvérsias a tempestades desfeitas como a neve em água.
O pensamento, resposta do ego dominado, revela um novo olhar de encontro de lembranças. Há uma ponte entre as nuvens e de todos os lados há um início, assim como um fim.
E mais uma vez segue-se a trilha de soluções vertentes a uma lógica que sempre deve prevalecer.
Abre-se uma porta, fecham-se janelas e a luz segue um feixe de calor que permeia novos caminhos e decisões.
Se não destruo portas, construo paredes e a partir de uma nova definição para mudança, renovo-me na percepção do todo seguindo princípios próprios de silogismo positivista.

CAUSA E EFEITO


Estudando a filosofia antiga, encontramos a fonte da sabedoria eterna e sabemos hoje as dificuldades de um argumento penetrar difíceis e diversos tipos de armadura.

A pauta variável da causa procura justificativa no acerto para perpetuação do correto efeito, no mais loquaz espírito de coragem e determinação.

Homem que desvenda e odeia a ignorância, busca a iluminação do conhecimento, do raciocínio e da mudança. Seus erros são aprendizados, o que desconhece é aprendizado, sua vida, uma eterna aprendizagem.

Quando há uma ação contrária a nossas convicções até então, aciona-se provas de coragem para testarmos nossa capacidade de renovação e mudança.

O que pode nos avaliar se somos ou não reais, dignos do conhecimento e capazes de repensar atitudes e modificando nossa maneira de agir e pensar?

Há mudanças quando não existe a ignorância nem alienação.

Quando o tempo é passageiro e acompanhamos a formação e transformações que dele transcorrem.

O sonho é causa ou efeito? É uma dúvida, talvez originada de que a realidade é uma conseqüência de todas as experiências acumuladas.

Sem questão de mérito, apenas da forma a percebemos sua abstração, o sonho é também a nossa construção e certeza da dúvida do talvez for possível.

Do necessário se faz força, se faz presença, se faz luta, e o potencial de cada um liberta-se para a conquista.

Não é só a conseqüência um problema, mas o que a determinou também. E é preciso ter uma visão além da tangencial para encararmos um erro antes que ele se manifeste.

A maturidade do pensamento determinará o potencial de ação, e aí está o nosso dever para o desenvolvimento. Sermos mais, procurarmos mais, conhecer mais, para podermos ser plenos sem deixar nossa autenticidade.

Viver é brisa para quem não deseja crescer, assim como um furacão para quem quer aprender, enfrentando toda uma variação de sentimentos e emoção.

O certo é que vale à pena não sermos alienados e ignorantes em relação a nós.

Para amarmos é necessário respeito e construção, e todo amor revela-se nos passos que seguimos no futuro e não olhando apenas o passado.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

SÓCRATES E A INTRIGA


Um homem esbaforido achegou-se ao grande filósofo Sócrates e sussurrou-lhe ao ouvido:
-Na condição de seu amigo, tenho algo de muito grave para dizer-te.

O sábio, prudentemente disse-lhe então:
-Já passaste o que me vais dizer pelos três crivos?

O primeiro é o da verdade: guardas absolutas certeza se aquilo que me pretendes comunicar é verdadeiro?
-Bem, assegurar, não posso. Mas ouvi dizer, ponderou o interlocutor.
-Então, decerto, peneirastes o assunto pelo segundo crivo, o da bondade. Ainda que não seja real o que julgas saber, será pelo menos bom o que me queres contar? –questionou o filósofo.

Hesitando, o homem replicou:
-Muito pelo contrário. Não é nada bom.
-Ah, então recorramos ao terceiro crivo, o da utilidade, e notemos o proveito do que aflige, tornou Sócrates.
-Útil não é, aduziu o visitante.

Arrematou, então, o filósofo, num sorriso:
-Se o que me tens a dizer não é verdadeiro, nem bom e nem útil, esqueçamos o problema.   


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

PALAVRAS AO VENTO

O termômetro anda desregulado, as folhas caem fora do tempo com o vento castigando qualquer um que se aventure num dia em que é incerto se desvendará.
Os passos hora rápidos, hora lentos vão de encontro a suspeita da incerteza do que se abrirá de possibilidades, sempre com o vento castigando.
Olhos marejados, tristes, mas esperançosos vêem que é possível superar e avançar nos dias, mas fazendo de todos os seus minutos conquistas pessoais.
Ontem como amanhã é uma ilustração de um paralelo entre perdas e ganhos, que se confirmam no objetivo inabalável do presente.
Ouço diversas frases, com símbolos embutidos revelando hipérboles, metáforas e elipses que no fim me remetem a distante, mas real esperança.
Onírica e despojada realidade que teima em ser escola, que repreende e nos coloca em situações e lugares que nos serve de aprendizado. A teimosia e o desespero são realmente empecilhos que não servem neste caminho.
Orla perene que alivia tanto os olhos como ouvidos, no caminhar inebriado que leva ao pensar, sonhar e arquitetar um algo mais, algo mais concreto sem nunca equivocadamente esquecer o desejo, a paixão e o sonho.
Outras pessoas surgem, outras já existiram, outras deixaram de existir e simplesmente algumas nunca deixarão de habitar pensamento e emoção. Nós seres humanos somos realmente muito complexos, e alguns preferem mudar, trocar de roupa e teoria, socializar com possibilidades estruturais para tentar crescer e ser feliz.
Onde existe a paz ser no coração e na mente de quem a procura, e continuo firme neste caminho, não importando a dor que ainda sinto e me faz revelar muitas vezes pensamento lúgrubes, sombrios, logo combativos pela vontade de ser mais do que se é, de evoluir e compreender mais e mais o que realmente é o Amor em seu sentido mais amplo.
Objetivo de vida deve ser a razão mais forte que motiva o indivíduo, e sua conquista se dá lentamente, gradativamente, de forma que cada momento é um estágio de desenvolvimento. Neste movimento de transformação a percepção de cada passo, serve de luz para o que vem pela frente na conquista do seu objetivo.
O princípio é simples, nunca desistir, ir sempre em frente, aceitar desafios, buscar forças mesmo quando não se acredita mais, mudar, mudar sempre e estar aberto para novas idéias e possibilidades para o Amor!!!

domingo, 7 de novembro de 2010

CRÔNICAS DO VERBO ENLATADO 6

Thor e Eu




Como toda boa estória, essa também começará com um era uma vez...então...
Era uma vez, em um dia quente mas nem tanto, com os passos não muito apressados mas já com um desejo de encontro por algo quente e diferente, surge em uma esquina um pequeno, pequenino vulto marrom, saltitante e cativante a qualquer olhar despercebido ou não.
Um cachorro, o símbolo da amizade incondicional, do cuidado responsável da afabilidade e compreensão imediata. Seus olhos pediam o carinho e a adoção imediatos, como um socorro no vazio de onde estava repleto de pessoas e do comércio que revelava em sua venda.
E num rompante, num movimento, surgiu a decisão imprecisa mas necessária de sua aquisição em minha vida, aquecendo uma nova perspectiva de um coração abandonado por um animal de estimação.
E lá fomos nós, dois seres, duas espécies diferentes mais unidos por uma simbiose saudável, uma cumplicidade de novo-velhos amigos que perduraria sem tempo determinado, mas com uma alegria imutável, pois nunca nada teria mais valor do que um encontro descompromissado de dois sorrisos.
Nossos primeiros momentos, acalentaram novidades que me provariam uma certa singularidade. Como estava viajando, ele participou de eventos culturais como teatro, exposições e até uma danceteria com shows.
Novidades sempre existiram, mas com a participação de um cão, nunca. E até chegarmos ao lar que longe se mostrava pelas horas que desfilaram, procuramos um entendimento em relação a novas regras para ambos; e o que fazer, quando se derrete frente à face amiga de um ser tão frágil que parece pedir amor em cada travessura.


sábado, 6 de novembro de 2010

MANDAMENTOS DO CASAL

Uma proposta de relacionamento efetivo e afetivo



1.OS DOIS NUNCA DEVEM BRIGAR AO MESMO TEMPO. Isto significa evitar a explosão.quanto mais a situação é complicada, mais a calma é necessária.

2.NUNCA GRITAR UM COM O OUTRO, A NÃO SER QUE A CASA ESTEJA EM CHAMAS. Quem tem bons argumentos não precisa gritar, quanto mais alguém grita menos é ouvido.

3.SE ALGUÉM DEVE GANHAR A DISCURSÃO, DEIXE QUE SEJA O OUTRO. Perder uma discursão pode ser um ato de inteligência e amor.

4.SE FOOR CRITICAR, FAÇA-O COM AMOR. A outra parte precisa entender que aquilo que foi dito tem o objetivo de somar e não dividir.

5.NUNCA JOGAR NO ROSTO DO OUTRO OS ERROS DO PASSADO. A pessoa é sempre maior que seus erros, e ninguém gosta de ser caracterizado pelos seus defeitos.

6.SEJA DISPLICENTE COM QUALQUER PESSOA, MENOS COM SEU PARCEIRO (A). Na vida a dois tudo pode e deve ser importante. A felicidade nasce nas pequenas coisas.

7.NUNCA IR DORMIR SEM TER CHEGADO ANTES A UM ACORDO. Se isto acontecer, amanhã o problema será pior.

8.PELO MENOS UMA VEZ AO DIA, DIGA AO OUTRO UMA PALAVRA DE AGRADO. Muitos tem reservas enormes de ternura, mas esquecem de dizer isto em voz alta.

9.COMETENDO UM ERRO, PREPARE-SE PARA ADMITI-LO E PEDIR DESCULPAS. Admitir um erro não é humilhação. A pessoa que admite um erro demonstra ser honesta.

10. ‘“‘QUANDO UM NÃO QUER DOIS NÃO BRIGAM” . É sabedoria popular que ensina isto. Mas esta mesma sabedoria lembra que “dois bicudos não se beijam”. Alguém tem que tomar a iniciativa, quebrar o ciclo.Tomar iniciativa é gesto de maturidade e amor!

CRÔNICAS DO VERBO ENLATADO 5

As estórias que enganavam os sonhos

Fui criado pelos meus avós, não que tenham se ocupado em me tratar como filho, mas me ilustraram para compreendê-los como seres humanos e não como deuses infalíveis. Eram pessoas que na minha formação construíram alicerces para que a realidade fizesse parte das minhas necessidades.
Muitas estórias, muitas palavras e fantasias que não se revelavam em castelos e cavaleiros, mas que se concretizavam em pessoas que lutavam para sobreviver e mesmo assim eram felizes na medida do possível.
E assim, entre gestos amigos, carinho e afeto, minha história se iniciava encostada na minha percepção em formação, mas crítica, do que acontecia e dos meus desejos que sonhava e não aconteciam.
Pai e mãe eram figuras distantes, na época sabia apenas do simbolismo do que representava um pai, mas não o tinha e nem uma explicação concreta; apenas com o tempo a raiva e o desprezo por ele de minha avó.
Minha mãe era uma jovem e objetivos. m mulher nos meus primeiros anos, anos 60, e suas características pessoais, sua formação, a levavam para um mundo distante da casa dos meus avós, seus impulsos eram de certa independência, mas sua realidade era distante do seu desejo.
Contextualizando a época, era uma mulher intelectualizada, trabalhava como professora fazia cursos, tinha reconhecimento profissional e assim foi até a sua aposentadoria; porém emocionalmente era falha, não conseguia concretizar uma relação afetiva duradoura e sofria com um desfile de parceiros que não a satisfaziam.
Morou praticamente sempre com meus avós, só ou acompanhada. Eu precisava de espaço e nos livros encontrei um refúgio.
Em relação a mim, ela demonstrava muita determinação, mas pouco carinho. Satisfazia-se com a atenção dos meus avós por mime por sua crença e objetivos.
Triste é o fim de todas as crenças que não são embasadas no que é real, e sim na percepção desfocada de uma projeção. Sempre amei meus avós como eles realmente foram, e pela sua clareza na minha formação, sempre estamparam sua presença no papel que representavam de avós sem quererem o papel distorcido de pais.
E nas suas possibilidades e ações, realizaram de uma forma coerente que me permitiu ser bem lúcido sobre o papel de cada um. Senti falta de ter um pai, senti falta de ter uma mãe.
Nos livros, encontrava as famílias mais felizes até as mais tristes, ricas ou pobres, doentes e saudáveis, com pais que por mais ausentes ofereciam carinho e amizade. E ao mesmo tempo em que me alimentava culturalmente, demonstravam o quão sozinho eu estava.
Cercado de pessoas, mas só, levado inconscientemente pela fraqueza emocional de uma carência afetiva mal resolvida que buscava compreensão e amor.
Uma criança é apenas uma criança independente de seu grau cognitivo de aprendizado e percepção. Sua análise é acompanhada da maturidade emocional alcançada.
Hoje reflito as dores e angústias do que vivenciei na minha formação, e tento analisar e ser analisado para compreender em uma percepção mais completa sobre a minha existência.


Observo o quão comprometido fui e ainda sou pelo que senti falta, pelas mágoas indeléveis mais enraizadas. Como neto, fui abastecido de amor e cultura, mas como filho não me encontrei até hoje, seja na dor de um passado de ausências ou num presente de tentativas frustradas de um amor determinado culturalmente, mas nunca concretizado.
Uma mãe não deixaria o filho dentro de uma opção confortável e lutaria pela sua presença, independente das dificuldades, mas com a certeza do crescimento emocional de ambos.
Fico pensando que por tudo que a vida tem de clareza e dificuldades, sabemos que existem verdades que não são contestadas, até pela percepção que temos do aprendizado cultural e social.
Uma destas verdades é o amor que une as pessoas de um núcleo familiar, o amor de uma mãe pelo seu filho. E a inafiançável opção de abandono agravado por enfermidades físicas ou emocionais. Quem seria capaz deste ato? Existiriam justificativas plausíveis e humanas para que possamos compreendê-las.
Minhas lágrimas são metáforas que revelam uma criança triste, num adulto que perde a cada dia as fantasias inerentes ao sonho e que sempre clamou por amor, sem tê-lo efetivado em sua vida dentro de suas fragilidades emocionais originadas pela rejeição de uma relação plena.
Até hoje sentir a obrigação e não o sentimento espontâneo, nas atitudes de minha mãe é uma realidade que nem as minhas fantasias conseguem disfarçar. Um dos ensinamentos mais valiosos que recebi foi à incondicionalidade do amor.
Que nossos sofrimentos, desencontros e decepções, não devem nem podem nunca ser suficientes para nos afastarmos de quem precisa de nós. De que a nossa existência não tem sentido se não aprendermos com nossos erros e que faz parte errar pouco ou muitas vezes, que somos humanos e por sermos humanos devemos perdoar, não pelo ato em si, mas pela compreensão mesmo que não venha acompanhada de aceitação.
Perdoar é um ato de luz que transita entre o íntimo de nosso pensamento até o domínio de nossas emoções. Mas é mais do que chegar até o outro, é concretizar nosso ego, desfragmentado ao ponto de entendermos as motivações e a cegueira temporária de determinações ações.
Penso e escuto na trilha que o tempo me impinge, e me sinto cada vez mais longe de alguém que fui. Sou eu que afirmo, outro em si mesmo que tem a certeza de seus erros e a dúvida de seus acertos.
Mesmo tendo descoberto o que poderia ter sido os bloqueios foram mais fortes e sempre me impediram ir em frente. Chegou à hora de dar um fim a esta situação e ir até onde nunca fui.
E isto implica em não desistir, insistir, principalmente no que diz respeito a assuntos emocionais. Ser no lugar que não fui e lutar sem medo da dor.
Ser diferente já foi um tormento que hoje me alivia por não ser mais um e nem ser igual.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

PAIS E FILHOS: A INFLUÊNCIA DO COMPORTAMENTO ADULTO NA SEXUALIDADE INFANTIL


As relações entre pais e filhos começam a se estabelecer desde a fase embrionária, hoje tão comumente relacionada pela Medicina Psicossomática e pela Psicologia do Desenvolvimento do feto; tendo tudo começado pela suspeita e hoje já sendo observado como verdade, as propriedades das relações estabelecidas pela comunicação, ou toque, e variações ambientais, colaboram para hipotecarmos suspeitas concretas e fundamentadas da importância da saúde emocional como primordial para saúde daquele embrião em desenvolvimento.
A criança desde o seu nascimento tem um interacionismo com os adultos que a cercam pela responsabilidade dos atos observados e sentidos. Desde a fase de lactação, ao sugar o leite do seio da mãe, há uma participação do carinho, calor e sonoridade que se faz percebida.
Como já pesquisado e relatado em diversas dissertações e teses, desde cedo no ventre da mãe, há manifestações da sexualidade, como a ereção espontânea do menino e a lubrificação vaginal.
Tudo que é observado e estudado comprova que a importância da saúde emocional dos pais durante a fase gestacional é fator dos primeiros passos da saúde psicosexual da criança.
É uma visão arcaica a de que uma criança não possuí consciência do seu corpo e da sua sexualidade. Há uma necessidade irremediável do conhecimento do seu corpo, manifestado através da curiosidade crescente que a faz manipular o seu corpo (em especial a área genital).
Os pais ficam até certo ponto chocados com sua realidade que não pode ser negada, e de acordo com a sua atitude frente o comportamento infantil, começará a se estabelecer mensagens de aceitação diante do sexo.
Brincar com os órgãos genitais é salutar e representa um primeiro caminho de descoberta do corpo e do prazer; se os pais reprimirem, tomando atitudes desaprovatórias, a criança tomará como mensagem negativa podendo ser a causa de futuros problemas sexuais. Muitas vezes à atitude da manipulação de seus órgãos sexuais adquirem uma conotação de sujeira por parte dos pais, que demonstram um extremo receio e criam ênfases de limpeza nas mãos a cada toque dado, mesmo em atividades manipulatórias como a urina.
Os pais em contrapartida, não criam limites de sua posição quanto à preocupação sanitária com a manipulação sexual, em que muitos casos por falta de conhecimento acham prejudiciais. É justamente o contrário que deve ser estabelecido, respeito à individualidade emergida e um entendimento da descoberta sexual da criança. Os únicos limites a serem praticados seriam Ada não exposição pública e do local reservado a ser praticado.
É de fundamental importância que os pais adquiram uma atitude positiva frente à percepção das crianças, de seus relacionamentos afetivos, a criança observa e traduz no seu nível a percepção do significado do encontro amoroso de um casal. Um beijo assim como um tapa, são dois lados de uma moeda que interferirá em sua vida afetiva e sexual.





Quanto mais natural for à relação dos pais quanto à percepção do corpo e das manifestações evolutivas do comportamento mais saudável será o desenvolvimento da criança. Um exemplo usual é o da criança que em casa possuí liberdade de tomar banho com os pais, de não terem de camuflar a nudez, e ter saciada a curiosidade sobre o seu corpo e o dos pais. Este fato representa uma consciência maior do corpo e um desbloqueio em relação a sua intimidade e de seus futuros parceiros.
É muito interessante verificarmos em entrevistas, que muitos ou quase a totalidade dos pais, não se lembram das primeiras brincadeiras sexuais, ou de suas curiosidades em relação ao corpo quando crianças. Esta amnésia seletiva deve-se explicar pelo possível bloqueio que se estabelece na puberdade que inibe na consciência a lembrança de comportamento partilhados anteriores.
Não devemos esquecer que para as crianças, brincadeira é brincadeira, e que a avaliação dos pais não pode nem deve seguir os seus critérios adultos de valores. Um adulto não pode estigmatizar como sexo uma brincadeira infantil sexual.
Os pais que rotulam de feio, sujo e proibido, baseado em seus valores, provavelmente estará acarretando comportamentos distorcidos que acumularão conseqüências desastrosas no amadurecimento afetivo-sexual.
Quando a criança atinge a um estágio em que há uma consciência do elemento erótico das atividades sexuais (aos oito e nove anos), e a estimulação sexual pode vir acompanhada de fantasias, e que possibilitará o enamoramento. Esses encontros poderão auxiliar as crianças a aprender a se relacionar com os outros, tendo diretas conseqüências no desenvolvimento psicosexual na idade adulta.
Podemos verificar que há desenvolvimento da socialização na medida em que há observação do relacionamento dos pais e adultos que a cercam é positiva. As fantasias estabelecidas no encontro amoroso das primeiras experiências representará uma antecipação e afirmação daquilo que ela acredita e espera de um relacionamento afetivo (que inegavelmente é baseado em sua convivência com os pais).
A Educação Sexual é primordial na construção da saúde emocional de um indivíduo. Os pais que tem a possibilidade de instruírem seus filhos de modo claro e objetivo tendem a afastar-lhes o perigo de uma educação difusa e distorcida fora de casa, através de grupos sociais distantes, muitas vezes de um padrão saudável.
O comportamento adulto estabelece padrões, que muitas vezes confundem a criança com seus valores e práticas distantes daquelas usualmente vivenciadas em suas atividades lúdicas diárias.
Uma visão diferenciada dos valores, da crítica e das regras, favoreceriam uma troca mais real de dois mundos distantes pertencentes ao mesmo conjunto. É a tarefa, mas árdua e em compensação a mais satisfatória, a da compreensão do porque desta distância e do seu real dimensionamento, na construção de adulto.
Aqueles adultos que conseguem ser saudáveis em suas relações e passam respeito e compreensão com suas crianças, tem a recompensa de um futuro de equilíbrio e saúde sexual para aqueles que talvez não tenham herdado seus sonhos e desejos, mas que com certeza terão herdado o prazer de se relacionar e viver.

TENDÊNCIA E REALIDADE


Quantos tem a coragem de assumir uma postura frente ao que realmente acredita? E ao que realmente acredita? E ao assumirem uma postura profissional em Educação, quem são aqueles que lutam e aplicam o que assimilaram ao longo de sua prática e de seus estudos?
 Vivência-se enquanto discentes diversas linhas metodológicas, teorias e utopias de docentes comprometidos em sistemas estabelecidos das instituições que lecionam ou pesquisam. O aluno por empatia, filosofia ou desconhecimento acaba por se enganar e propagar a mesma tendência. Isso é positivo? Não, o raciocínio levado a distanciar-se das operações concretas e abstrair o conhecimento, deve ser livre, propiciando uma absorção emocional-filosófica e social.
  No passado, ao tão remoto depara-se com uma educação clássica, formal, a qual o conhecimento era preservado em esquemas pré-moldados e na avaliação sistemática de resultados.
  O professor, figura máxima da autoridade e do suposto conhecimento, revela-se um priorizador de respostas exatas e de alunos “brilhantes”. A escolha de turmas em escolas públicas ou particulares era um momento de premiação ou castigo, dependendo do grau de “amizade” pedagógica ou desempenho do professor. A “tia” ou “tio” ficavam na expectativa de pegar as turmas em que os alunos não tivessem mau comportamento e boas notas.
  Este fato é um retrato, preto-e-branco das dificuldades da observação do outro como um ser completo, com necessidades emocionais e sociais, as quais deveriam ser preenchidas.
  A escola tradicional é um marco, uma conotação ruidosa do muro de Berlim, que com o tempo ruiu para o surgimento da valorização do ser integral em detrimento da “Pedagogia dos Conteúdos”.
   Segundo Lauro de Oliveira Lima, em seu livro a Escola Secundária Moderna, a criança em desenvolvimento responde melhor quando não é pressionada, levando-a a refletir e desenvolver seu pensamento.
  Com o surgimento da escola nova, chamada progressista, desnudou-se a figura do autoritarismo e surgiu o orientador, o fomentador de questionamentos, que possibilita o desenvolvimento do raciocínio e do emocional.
   O surgimento de uma pedagogia crítica, representada por teóricos como Henry Giroux, Eric Fromn, Adorno e Hebert Marcuse, foi fundamentada na convicção de que a escolarização para habilitação pessoal e social está relacionada com a dimensão moral transmitida na prática pedagógica.
  Vários foram os estudiosos que contabilizaram para as linhas filosóficas de base para a escola progressista, podemos citar Summerwil, Piaget, Montessori, Freinet, Freire, Teixeira, Lúria, Ferreiro, Vigotisk, entre outros.
   Piaget, um dos autores mais significativos, representou, mesmo não sendo um educador e sim biólogo, um marco na educação moderna pelos seus estudos em Epistemologia Genética e suas conseqüências no desenvolvimento humano. Tendo estudado e teorizado a gênese do pensamento das crianças, relacionando-as com a sua maturidade sócio-emocional.
  O Construtivismo toma Piaget, como um de seus pais, pela contribuição de suas pesquisas e resultados práticos em escolas experimentais. Em A Representação do Mundo na Criança, percebemos o enfoque dado à questão do realismo e a construção do pensamento.
  Piaget (1926) sobre isso afirma:

                         “A criança é realista porque ignora a existência dom sujeito e a interioridade do pensamento. Deve-se, portanto esperar que ela experimente grandes dificuldades em explicar-se quanto ao fenômeno mais subjetivo...” (p.76)

  Uma das linhas metodológicas mais seguidas e utilizadas pela escola progressista, o construtivismo, representa uma revolução nos processos de aprendizagem e numa nova visão do desenvolvimento intelectual.
  G.S. Kostiuk (1991) diz que:

                          “O ensino nas nossas escolas não pode limitar-se apenas a transmitir ao discípulo, determinados conhecimentos, a formar um mínimo de aptidões e de hábitos”. A sua tarefa é desenvolver o pensamento dos alunos, a sua capacidade de analisar e generalizar os fenômenos da realidade, de raciocinar corretamente; numa palavra, desenvolver “no todo” as suas faculdades materiais. (p.25)

   As três linhas oferecem pontos em que se requer reflexão e constantes estudos, porém a tendência atual tende ainda a escola progressista, tendo ao seu lado um pouco atrás a linha crítica.
  Ao examinarmos enquanto docente a prática pedagógica nos leva a aplicar um sistema que se favoreça a construção do conhecimento, sem deixarmos de lado a formação ética-social do indivíduo.
  Acredito que pela utilização do construtivismo na escola progressista, tivemos diversos avanços, como uma repensagem nas aplicações de avaliação e no sentido de grupo (operacionalizando na escola, os princípios de uma socialização democrática).
  A universidade como um todo deve servir de base para uma nova sociedade, e ela é única na oportunidade que tem de promover mudanças visando assumir a sua condução.
  Parte fundamental dessa estratégia de conquista a uma nova sociedade é o fortalecimento da estrutura de pesquisa, da educação continuada e incremento na perspectiva de aperfeiçoamento do ser integral, através do desenvolvimento seu potencial acadêmico.
  A proposta progressista permite uma avaliação constante das perspectivas e das freqüentes mudanças necessárias à conquista deste ideal, da pré-escola até a universidade.

  Vigotsky (1989) afirma:
  
                       “Os problemas encontrados na análise psicológica do ensino não podem ser corretamente resolvidos ou mesmo formulados sem nos referirmos à relação entre o aprendizado e o desenvolvimento em crianças em idade escolar”. (p.89)

     Enquanto Ser e educador, posso modificar meu ambiente, posso reestruturar meu pensamento, e encontro em vivências, motivação para continuar aprendendo.


BIBLIOGRAFIA:


1. Piaget, Jean; A Representação do Número na Criança; Ed. Record; 1978;
         Rio de Janeiro; RJ.

2. Piaget, Jean; O Raciocínio da Criança; Ed. Record; 1979: Rio de Janeiro;
         RJ.                       

3. Luria, Leontiev, Vigotisk e outros; Psicologia e Pedagogia; Ed.Moraes;
         1991; São Paulo; SP.

4. Vigotisk, L.S.; A Formação Social da Mente; Ed. Martins Fontes; São       
         Paulo; SP.         

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

CRÔNICAS DO VERBO ENLATADO 4


Espelhos



De tempos em tempos, sofre a mente pela impossibilidade da existência, criada por acordes inaudíveis de lágrimas invisíveis.
Questões morais conotam muitos sonhos destruídos, revelando o desencontro entre o pensamento e a ação.

A dor do envolvimento  só fica clara quando confrontada na sua manifestação, e como o peito reclama, como nos sentimos enjoados, numa azia interminável que nossa mente não é capaz de controlar.
Tudo que passamos nos direciona para uma nova ação, por mais alçada e repetitiva, ela sempre possuiu novos conteúdos,absorvidos na aprendizagem constante que vive.

Passam os pássaros em coreografias mágicas pelo céu, e nós aqui na terra, percebemos que a nossa magia deve e tem de ser diferente.
A madeira crua é depósito de forma, a imaginação, a criatividade descobre nas mãos, ferramentas de transformação.

Somos nós, a nossa criatividade descobre, as nossas ações que buscam modificar ao entendermos nosso potencial.
Vinho temperado de luz não deixa de seguir o fluxo do sangue que o absorve, mas encontra novos caminhos nos olhos.

Tantos são os desejos, tanta é a criação, que  ficam fora de tom, nem a música que alimenta o espírito se torna tão reveladora, quanto as nossas palavras vivenciadas no espelho de nós mesmos.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

CRÔNICAS DO VERBO ENLATADO 3

Reconstrução

Todos os dias ao se levantar pedia a Deus, a bênção de mais um dia de saúde e paz. Todos os dias ao tomar seu café da manhã, olhava pela janela e observava o céu, as nuvens, os sons de pássaros ou trânsito de veículos, e agradecia a Deus pelo alimento e por todas as sensações que percebia a cada dia.

Todas as horas ao se movimentar pelo tempo físico-emocional, analisava os benefícios que a sabedoria dos acertos e erros adquiridos o transformara, e agredecia em silêncio a bênção de Deus.

Todas as horas em seus vários encontros e desencontros, acreditava no que era ético e moral apesar de todos e tudo,  o provarem ao contrário; mas nem mesmo através das diversidades orava pela bênção da compreensão e do entendimento.

Todos os minutos sempre que sentia-se aflito ou ansioso, acompanhava os ponteiros do relógio com os olhos como se o tempo esvaisse e deliberasse suas atitudes e pensamentos, e lia escritos religiosos e teológicos, para aplacar seu desequilíbrio e o elucidar em suas dúvidas.

Todos os minutos viajava entre os segundos, febril pelas hipóteses que o tornam tão independente e responsável, que sentia-se afastado da fé tornando-o relegado a um ser no qual os valores deveriam ser construídos e mantidos pela verdade e pelo conhecimento, tendo o questionamento uma arma para novos aprendizados.

Todos os segundos mesmo sem perceber, a distância tornava-se maior todos os segundos no desencontro entre a cognição e o instinto revelavam que suas leituras, suas orações, benções e Deus, não tinham mais  o mesmo significado.

Houve dias que suas lágrimas suplicavam pela luz, mas o conhecimento não deixava a ignorância o tranquilizar e lhe dar paz.

Houve dias em que a certeza e a razão, aliadas a determinadas verdades, não traduziam suas emoções em prazer, mas sim em tristes devaneios.

Houve momentos, que só a chuva e o frio o aproximava do que era preciso para a lentidão da urgência de si mesmo. Um mergulho no seu inconsciente para o encontro com a luz interior.

Houve momentos que ser pleno e consciente o tornou suficientemente esclarecido, e compreendeu seu passado e as dúvidas que no futuro serão cobradas.

Houve um segundo, apenas um pequeno lapso do tempo como num último grão de areia que escorre no vidro de uma ampulheta, olhou para o céu sem nuvens e novamente Deus.

Mas...

Todas as noites refletia e repetia quase exaustivamente que a ciência da razão por mais que torne o abstrato em concreto, não é suficiente para nos dar segurança frente a consciência social e termos plenitude do universo numa relação de harmonia e serenidade, no referente ao que somos e qual o nosso real significado.

E resolveu...

Todos os dias ao se levantar, pedia a Deus a bênção de mais um dia de saúde e paz !

terça-feira, 2 de novembro de 2010

CRÔNICAS DO VERBO ENLATADO 2

As mentiras que minha mãe contava



Eu sou um escritor, sou um mentiroso e me é mais fácil afirmar que sou um mentiroso que um escritor. O advogado também é um mentiroso e nem por isso é um escritor. A afirmação de que sou escritor também pode ser mais uma mentira, mas tanto na literatura quanto nos julgamentos a diferença entre verdade e mentira é muito tênue. Minha mãe ensinou-me a mentir sem sentir saber que estava mentindo ou que a mentira às vezes é uma forma de verdade. Quando alguém com quem minha mãe não queria falar a procurava, ela pedia para dizer que não estava. Depois falava que estava cansada, que ela sabia o que a pessoa queria e mais tarde iria ao seu encontro. Suas mentiras, que também eram minhas, me pareciam tão necessárias que eu dizia que ela não estava sem que ela houvesse me incumbido disso. Se seu olhar estivesse distante ou se descansasse, eu falava que ela não estava e tinha para mim que não estava mentindo, afinal ela estava em qualquer lugar que não fosse nossa casa.
Através dos seus relacionamentos percebia que quando algo não ia bem, ou quando eles terminavam, por incompatibilidade devido ao acúmulo de erros, sempre superior aos acertos, não era permitido violar o silêncio de suas sentenças absolutas que diziam muito mais do que se não fossem castradas.
Utilizar a saúde e a condição financeira, como meio para se aproximar ou afastar através de estórias era quase um padrão, que se sustentará provavelmente até a mente não for mais funcional.
A mentira na minha casa sempre foi uma metáfora da verdade. Nunca acusávamos uns aos outros de mentirosos e nem nos orgulhamos de ser verdadeiros, sabíamos sermos verdadeiros com nossas mentiras metafóricas. Meu avô não mentia, omitia, calado e introspectivo. Também nunca se valeu da verdade como um bem. Toda vez que a verdade se fez necessária na minha casa, junto dela vieram outros sentimentos menos nobres que a veracidade dos acontecidos; tais revelações foram indispensáveis nos devidos momentos, conquanto o embuste já estivesse sido usado e causado o mesmo efeito.
Aprendemos a usar inverdades ou verdade e assumir as conseqüências, e o que definia o resultado da ação, como boa ou ruim, não era a autenticidade do discurso, mas sua legitimidade. As palavras da minha mãe eram certas porque além de ser mãe ela não deixava espaço para a dúvida. A firmeza na voz, a convicção, a autoridade, eram convincentes.
O problema da mentira é a conotação pejorativa que lhe dão e para isso temos alternativas. O escritor não mente, ele cria um universo ficcional e tudo o que escreve é real naquele ambiente. A fábula é um jeitinho especial de ensinar os valores morais e éticos para nossas crianças, ou seja, uma mentira para explicar uma grande verdade. A metáfora não é falsa nem verdadeira, mas serve para distorcer a verdade e contorcer a mentira. Ainda há o ponto de vista que relativiza aquela que sonha em ser absoluta, por exemplo: um sorriso falso pode ser sarcasmo verdadeiro, e uma briga falsa pode ser um artifício para uma reconciliação verdadeira.
Pode até parecer uma apologia à mentira, mas ocorre que ela é produto da verdade e vice-versa, logo também seria uma apologia ao verdadeiro. O falso é o método para se conhecer ou construir o real e embora minha mãe não seja uma filósofa, ela me antecipou e mostrou na prática a afirmativa de Nietzsche: ”Quem não sabe mentir não conhece a verdade”.




“Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio
Nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo
Porque a verdade passará a ser servida
Antes da sobremesa.”

(artigo V dos “Estatutos do Homem”, de Thiago de Mello)